As Gaivotas: DIÁRIO DE BORDO

domingo, 29 de junho de 2008

DIÁRIO DE BORDO

Coimbra, 29 de Junho de 2008

Hoje, no último dia de apresentação do presente processo, algo de excepcional acontece: um grande número de pessoas atenta o espectáculo, ficando em torno de todas as áreas com visibilidade de apresentação. Para além da representação entusiasmar o público, esta excepcionalidade numérica de espectadores, deve-se também ao facto de que no parque verde muitas pessoas passam passeando, sem estarem apressadas: é-lhes proposto o jogo, quando elas estão fora do corre-corre do quotidiano.

Assim, o espaço ganhou outra dimensão, esse grande número de pessoas entra na ficção proposta pelos actores. Novamente há grande interacção, desta vez não só durante os momentos musicais, como também durante as cenas… comentário, risos, palmas…

Olhando para o desenrolar do processo, será interessante constatar que, de dia para dia As Gaivotas conseguem concretizar os seus objectivos… hoje verifica-se claramente um transformar do meio, um quebrar com a realidade quotidiana, o fazer com que quem escolhe definir-se como público viva, durante o tempo de duração do espectáculo, num outro espaço-tempo… através da realidade ficcional cria-se a magia da comunhão público-espectadores, um espaço de comunicação…

Uma questão relevante neste processo que se pôde verificar também neste último dia, é a adaptação constante de As Gaivotas ao seu público… assimilando a aprendizagem realizada nas várias jornadas, os actores, constantemente, improvisam novos pormenores, criam novas expectativas, interagem com os que os atentam e acompanham o jogo, sempre respeitando os objectivos das personagens…

Como quem observa o rio e atenta nas gaivotas que por lá passam e param… de repente, a vivência do momento presente, sem as preocupações em relação ao futuro aos pensamentos em função do passado…

…Foi essa vivência do momento presente que As Gaivotas pretenderam fazer experienciar… e, de repente, toda uma plateia as atenta e juntamente com elas… vive o momento…

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AS GAIVOTAS

O projecto As Gaivotas é realizado no âmbito do Projecto de Intervenção do 4º ano do curso de Teatro e Educação da Escola Superior de Educação de Coimbra.
Neste projecto, tem-se como objectivo a criação teatral, não no seu espaço convencional, mas na rua.

Qual a razão de intervir no espaço de rua?
Na rua, pois é uma das metas das Gaivotas conseguir, dentro do espaço quotidiano, criar uma realidade ficcional que envolva todos aqueles que optem por partilhar os momentos criados, tornando-se espectadores.
Em espaços que normalmente são usados numa realidade não ficcional, os transeuntes serão convidados e aliciados a entrar na ficção proposta pelas Gaivotas. As pessoas que passam na rua não são espectadores à priori: só depois de captada a sua atenção poderá existir público... É escolha de quem passa atentar ou seguir o seu caminho...

Gaivotas… quem são?
As gaivotas são um grupo de zanni que se propõe a comunicar com o meio não só através de pequenos gestos que quebrem a rotina do dia-a-dia, como também e fundamentalmente a de recontar uma história pertencente ao imaginário colectivo, uma ficção que transporte o público para um outro tempo que não o do quotidiano – o tempo da realidade ficcional. A história a ser desenvolvida pelos zanni é a de D. Pedro e Inês de Castro. É uma história universalmente conhecida e que deu já origem a inúmeras obras artísticas - os zanni propõem-se a reutilizá-la, a recriá-la... É seu desafio contar a história, tão conhecidade de todos, de outro ângulo, investindo na forma como o fazem.

A comunicação que se pretende alcançar existe com base na troca consequente da relação entre os actores e o público. A partir do momento em que se cria essa comunicação, um momento mágico acontece: o de permanecer, não na vida do dia – a – dia, mas no tempo ficcional e teatral que nos é proposto – eis um dos porquês da escolha de realizar Teatro de Rua.

Se este é objectivo dos zanni, para tal recorre-se à Commedia dell’Arte e uso de máscara. Privilegia-se a pantomima como forma de expressão e comunicação, afastando-se da linguagem verbal, para se assumir uma relação mais directa com o público. É através das acções que se tornam claros os objectivos das personagens, e as situações de conflito, consequentes das vontades opostas.

Inerente e essencial à realização deste projecto, está a criação colectiva, do grupo que constitui As Gaivotas e seu coordenador artístico, Nuno Pino Custódio.

A que público se dirige este projecto?
De facto, será uma pergunta pertinente, uma vez que se tem em vista um espaço tão amplo, disperso e desorganizado como o da rua. Não poderemos identificar, em todos os seres humanos, pilares comuns, bem como, necessidades generalizadas a qualquer indivíduo? As personagens zanni têm objectivos simples e simultaneamente universais…

A vivência do tempo presente, sem as preocupações do passado, que já não existe, ou ansiedades de um futuro, que ainda não chegou, uma vez que só assim se poderá viver plenamente. Note-se, por exemplo, o stress característico das cidades actuais. Estamos constantemente preocupados… Com esta situação contrastam os zanni, que vivem o momento presente.
Esquecer por momentos a realidade quotidiana e fazer acontecer um momento em que a realidade ficcional nos invade, porque assim optamos… Tal como quando passeamos à beira rio e damos por nós a observar a movimentação das gaivotas que trazém calor e cor à cidade... As Gaivotas buscam esse espaço mágico…uma partilha…onde a imaginação de quem cria é completada pela imaginação de quem vê… e quem vê está novamente a criar…

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